A Osteopatia Pediátrica tem os mesmos princípios da Osteopatia para Adultos (enxergar o corpo como um todo, encontrar a causa do sintoma e facilitar a auto-cura), porém as técnicas são adaptadas para anatomia e fisiologia do bebê, já que alguns tipos de manipulações são contra-indicadas para eles.

Tanto a avaliação como o tratamento são feitos através de palpação a procura de bloqueios mecânicos que possam estar afetando alguma função local ou a distância. 

Bloqueios mecânicos geram incômodo (em repouso ou durante o movimento), dessa forma o bebê não consegue se acalmar e isso interfere em funções essenciais como: succionar, deglutir, digerir e dormir. A dor na infância contribui para o desenvolvimento motor desordenado, para o surgimento de aspectos comportamentais alterados e de respostas não funcionais aos estímulos externos. Isso quer dizer que a criança irá aprender uma forma inadequada de comunicar e reagir quando sentir algum incômodo.

Além disso, um trauma sofrido pelo bebê, seja ele dooloroso fisicamente ou emocionalmente, irá interferir na capacidade de auto-regulção e consequentemente no aprendizado.

A quantidade de consultas necessárias para tratar um sintoma varia de acordo com a causa e com a ajuda dos pais para identificar se há algo no meio ambiente ou no cotidiano da família que trás o sintoma de volta constantemente. Mas desde a primeira consulta é possível perceber melhora significativa. 

Os principais sintomas que fazem os pais buscarem tratamento são: 

- choro excessivo

- torcicolo

- outros desconfortos físicos

- plagiocefalia

- dificuldade na sucção e amamentação

- cólica

- refluxo

- disquesia

- dificuldade com o sono

- atraso no desenvolvimento motor

 

- Choro excessivo:

Por muitos meses, a principal comunicação do bebê é feita através do choro. 

Qualquer incômodo que ele sinta, será comunicado através do choro. E é a partir da percepção dos pais sobre em quais momentos o bebê mais chora, que é possível começar uma investigação sobre o que está acontecendo. 

Se o choro prevalece quando o bebê vai para o colo, ou durante a troca de roupa existe a possibilidade de algum desconforto físico (dor articular ou muscular, como por exemplo, luxação, torcicolo, tensão muscular, etc...). Se o bebê se queixa durante a amamentação, é provavel que algum bloqueio esteja interferindo na sua capacidade de abrir a boca e de fazer sucção. Já se a queixa vem logo em seguida da mamada, pode ser que haja refluxo do conteùdo ingerido. Se o choro aparece cerca de 30 min após as mamadas e dura horas, existe a possibilidade de cólica. Um incômodo seguido de alívio sempre que o bebê solta pum ou faz cocô, sugere disquesia. E se a hora do sono é mais traumática do que prazerosa, é possível que algum bloqueio esteja afetando a inervação autônoma do corpo.

- Torcicolo:

O Torcicolo é caracterizado por um desequilíbrio na musculatura cervical e consequentemente na dificuldade do bebê em movimentar a cabeça ou olhar para um dos lados . 

A causa pode ser congênita (posicionamento intra-utero ou durante o parto) ou adquirida (posicionamento no dia a dia, falta de apoio da cabeça e cervical durante as transferências, ou a própria movimentação descoordenada duarante o aprendizado motor).

Independente da causa, o torcicolo irá causar dificuldade do cérebro em reconhecer as duas metades do corpo de forma iguais e consequentemente atraso no desenvolvimento motor. Além disso, a dificuldade em girar a cabeça para um dos lados, fará com que o bebê apoie sempre a mesma região da cabeça quando está deitado. Isso causará alteração no formato da cabeça (plagiocefalia), e isso fará com que o tratamento do torcicolo se torne um pouco mais difícil (além de causar outros problemas que serão abordados posteriormente).

Os olhos são guias dos moviemento cervical, e por isso a motricidade deles também é abordada no tratamento de torcicolos.

- Outros desconfortos físicos:

Existe a possibilidade do bebê apresentar um tensão meníngea aumentada. Isso se caracteriza por choro excessivo durante trocas de posição (pricipalmente quando é colocado em posição fetal), e pela capacidade em sustentar a cabeça na posição ortostática sem apoio antes dos 2 meses de idade. A tensão meníngea irá causar dificuldade de movimentação e de auto-regulação, e por consequência ocorrerá atraso no desenvolvimento motor.

Se o bebê reclama muito durante as trocas de roupa ou de fralda, pode ser que ele sinta algum incômodo articular. A causa pode ser uma sub-luxação articular. As mais comuns são a de quadril (geralemente encontrada em bebês que ficaram pélvicos por bastantes tempo) e a de ombro (que pode occorrer durante o parto normal ou até mesmo durante as trocas de roupa). 

Ao contrário dos adultos, os bebês não irão se obrigar a fazer o movimento que gera incômodo. Dessa forma, a causa não gera sintoma constante (o sintoma só aparecerá quando a região for tocada ou movimentada), mas gera a incapacidade do bebê moviementar a região de forma adequada espontaneamente. A alteração no movimento irá gerar atraso no desevolvimento, e possivelmente sintomas a distância (já que o corpo e continuo e uma região facilmente interfere em outra). 

- Plagiocefalia:

Cada tipo de alteração no formato craniano recebe um nome. A mais comum é a Plagiocefalia. 

Ela pode ser notada já ao nascimento. Neste caso ela ocorreu em decorrência do posicionamento intra-uterino ou da passagem pelo canal de parto (feito naturalmente ou com ajuda de ferramentas). Ou pode ser notada ao longo dos dias e neste caso a causa mais comum é o posicionamento prolongado em uma mesma posição.

 A própria deformação craniana pode causar dores locais (face e/ou crânio) por causa da inervação sensorial do periósteo e da distribuição nervosa por toda a cabeça. Além disso, a plagiocefalia pode causar um desequilíbrio muscular já que  boa parte da musculatura de cintura escapular e cervical é inserida no cranio (e por isso é muito comum ser necessário tratar a plagiocefalia em conjunto com o torcicolo). 

O tratamento da plagiocefalia exige grande ajuda dos pais e cuidadores em casa. Pois a pressão externa exercida durante os posicionamentos do bebê (durante o dia e a noite) é um fator essencial na progressão do tratamento. 

O papel da osteopatia é encontrar e tratar o bloqueio que impede que o crânio assuma um formato harmônico. O restante do tratamento é feito pelo crescimento do cérebro (mais acentuado até o sexto mês de vida), pelo desenvolvimento da musculatura (principalmente a musculatura extensora da coluna utilizada quando o bebê brinca de barriga para baixo), e pelo cuidados nos posicionamentos do dia a dia. 

- Sucção e amamentação:

As primeiras vértebras cervicais tem grande influência sobre o reflexo de sucção. Ligações fasciais e musculares entre essas vértebras, a base do crânio, o osso hióde e a mandíbula justificam alterações mecânicas que podem interferir na deglutição e consequentemente no ato de mamar. Além disso, uma tensão muscular ou bloqueio articular nessa região pode estimular o nervo occipital maior e o núcleo trigeminal caudal, gerando estímulos de dor e interferindo no ato de mamar.

Uma alteração no movimento da língua também atrapalha o ato de mamar. Isto pode estar sendo gerado por desequilíbrios musculares (musculatura temporal, masseter, digástricos, supra-hióides e etc) e por encurtamento de um ou mais frenos da boquinha.

Se o bebê sente alguma dor ou desconforto durante o ato de mamar, ele irá abrir a boca justamente para diminuir a sucção na tentativa de aliviar o incômodo antes de continuar se alimentando. O problema é que o ar que entra nesse momento é irritante para o sistema gastro-intestinal e irá alterar o peristaltismo destes órgãos gerando constipação (ou diarreia) e até cólicas.

Também é importante lembrar que práticas anormais durante o ato de mamar, como: incapacidade de selar o lábio no seio, deixar que o ar entre para aliviar dor, costume de jogar a cabeça para trás e mamadas excessivamente demoradas irão contribuir para que o bico do seio da mãe fique machucado e consequentemente o ato de mamar não seja prazeroso para bebê e mamãe.

- Cólicas:

A cólica pode estar sendo gerada por uma resposta do nervo vago a algum estímulo aferente de dor no próprio sistema digestivo ou em outro local. Por isso é importante investigar e tratar (se necessário) dores articulares e/ou musculares além de regularizar o funcionamento dos órgãos envolvidos.

A cólica em bebês é auto-limitante podendo gerar atrasos no desenvolvimento e reações de estresse a mínimos estímulos. O estudo de Miller JE, e Phillips HL intitulado ¨Long-term effects of infantil collics¨ mostra que bebês que tiveram cólicas e não foram tratados, desenvolveram padrões comportamentais negativos aos 2 e 3 anos de idade.

Também é válido lembrar que a alimentação da mãe interfere diretamente no estado de cólica infantil. Comprovadamente alguns alimentos são inflamatórios para pessoas de qualquer idade. Quando esses agentes inflamatórios fazem parte da alimentação da mãe, estarão presente no leite materno e irão causar consequências dolorosas para o bebê.

 - Refluxo:

O refluxo pode ser gerado por questões mecânicas, como: alteração no funcionamento do músculo diafragma, alteração na mobilidade do tronco além de desequilíbrio entre as cinturas escapular e pévica.

Outra causa, pode ser o desequilíbrio entre as pressões intra-abdominal e intra-torácica.

O refluxo, pode estar de forma oculta caso haja tensão cervical, e neste caso o bebê não regurgita. Mas os sintomas como dificuldade no ganho de peso, irritação e dificuldade com o sono ainda estarão presentes.

- Disquesia:

A disquesia é um distúrbio funcional do trato gastrointestinal do lactente em que ele pode sentir vontade de fazer cocô sem evacuar, ou precisar de muito esforço e tempo para tal.

Por algum motivo o peristaltismo normal do intestino não está acontecendo. As causas podem ser uma resposta da inervação autônoma do corpo devido a um sinal vindo do próprio sistema digestivo (irritação no sistema digestivo devido a alimentação materna ou a alergia a algum tipo de fórmula, alteração da pressão intra-abdominal) ou de algum bloqueio mecânico que gera desconforto ao ato de defecar (os bloqueios sacro-iliacos e de quadril são os que mais geram esse sintoma).

Além disso, é comum encontrar tensão aumentada na musculatura sub-occipital em bebês com disquesia. A relação existente neste caso, é que nessa região a inervação parassimpatica (responsável pelo descanso e digestão) é bastante superficial e portanto afetada pela contração muscular. O mau funcionamento do intestivo pode gerar tensão muscular nessa região, e essa tensão pode atrapalhar o funcionamento digestivo. Desta forma, se forma um ciclo difícil de ser quebrado sem intervenção osteopática. 

- Sono

Não é considerado saudável nem , o sono excessivo, nem a agitação que atrapalha o sono. Nas duas situações, existe uma alteração na maturação neurológica. Isso quer dizer que o Sistema Nervoso Autônomo (simpático, e parassimpático) não está funcionando de forma harmônica.

O sono excessivo atrapalha na amamentação e diminui a interação do bebê com o meio ambiente prejudicando o desenvolvimento. Em contrapartida, é durante o sono que o Sistema Nervoso Central armazena as experiências vividas durante o estado de vigília e gera o aprendizado. Também é importante reconhecer que um bebê que não dorme bem fica irritado, com isso sente mais dores e altera a sua interação com as pessoas e o meio ambiente.

Vários fatores podem gerar esse desiquilíbrio, como: dor musculo esquelética ou em algum órgão (ex: cólica), bloqueio craniano, bloqueio occipito-cervical, acontecimento estressante para o bebê além de fatores relacionados ao ambiente e rotina da casa.

- Atraso no desenvolvimento motor:

A integração de reflexos motores requer: pensamento, planejamento, avaliação, refinamento e sucesso. Uma ação consciente determinada, quando feita com sucesso, (sem nhuma interferência biomecânica) torna-se uma ação subconsciente do tronco encefélico e portanto um reflexo aprendido. 

A aprendizagem do bebê ocorre através da exploração e manipulação do meio ambiente. Por isso, quando existe qualquer dificuldade em se movimentar (bloqueios mecânicos que geram incômodo ou incapacidade) ou quando o movimento não é feito com a mesma faciclidade bilateralmente, pode ocorrer atraso no desenvolvimento motor. 

O trabalho da Osteopatia é encontrar o bloqueio, mas será necessário que sejam feitos estímulos diários para que o bebê reaprenda a forma correta do movimento e para que não pule etapas do desenvolvimento. Em alguns casos, é de grande ajuda o trabalho da fisioterapia convencional como coadjuvante no tratamento.